Aproveite a tecnologia para melhorar o gerenciamento de riscos
A implementação de sistemas gerenciais tem sido uma estratégia comum nos últimos 30 anos para melhorar o desempenho em áreas como qualidade, segurança e gestão ambiental. Hoje, em muitas regiões e indústrias, estes sistemas já estão implementados e agora é hora de aumentar o nível para melhorar ainda mais os resultados. Esta oportunidade de melhoria encontra-se no uso efetivo da tecnologia e da análise de dados1.
O prevalecimento da tecnologia no ambiente de negócios atual incrementa drasticamente as oportunidades para que as organizações capitalizem as novas correntes de dados para melhorar o desempenho e os resultados. Hoje, estima- se que haja aproximadamente 10 bilhões de dispositivos conectados, que compartilham 4 trilhões de gigabytes dedados. Espera-se que até 2020 estes números alcancem os 50 bilhões de dispositivos conectados, que somarão 40 trilhões de gigabytes de dados.
Os negócios nunca tiveram a possibilidade de levantar tantos dados antes. Aquelas empresas que aproveitam efetivamente estes dados para reduzir os incidentes e melhorar a normatividade em segurança, transformar seus processos, aumentar a produtividade e a eficiência, e atingir um crescimento sustentável através de produtos novos e melhorados, estão em uma posição única para fortalecer o desempenho geral de seu negócio.
Com tamanha tecnologia disponível hoje para as empresas, seu uso no ambiente de negócios pode tornar-se facilmente em um esforço malsucedido: as empresas empregam diversas tecnologias bem-intencionadas, mas são incapazes de aproveitá-las de forma a maximizar os benefícios. Isto acontece porque não possuem uma estratégia que garanta a integração com os sistemas gerenciais já existentes. Em particular, isto acontece na área da gestão de risco operacional, no qual há uma proliferação de tecnologias relacionadas às melhorias nos sistemas de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SSMA) de uma empresa.
Com certeza, estas tecnologias têm a capacidade de reduzir a exposição de uma organização ao risco e de aumentar sua capacidade de desenvolver soluções preditivas para antecipar-se ao risco. No entanto, como as empresas sabem quais soluções tecnológicas são ideais para melhorar seu desempenho em SSMA, alcançar os resultados desejados sem gerar um trabalho desnecessário para a empresa, e ainda integrá-las efetivamente em seus processos e cultura para otimizar a produtividade e a eficiência?
Para alavancar uma tecnologia dentro de uma empresa com sucesso, são necessárias três coisas:
1) Demostrar o valor da tecnologia ao usuário final
Aqui, o “usuário final” se define como o operador ou empregado da área de produção individual, e não o executivo de alto escalão. Ainda que seja importante esclarecer para os líderes corporativos as vantagens para o negócio e o retorno do investimento em tecnologia para garantir o financiamento, a integração bem- sucedida da tecnologia exige que os funcionários que a utilizam compreendam de que maneira ela melhorará os resultados em segurança e eficiência para eles, de maneira muito direta. Seja utilizada para treinamento – como a realidade virtual ou simuladores - ou para a coleta de dados em tempo real - como drones e dispositivos móveis, os trabalhadores precisam reconhecer de que maneira a tecnologia os beneficia diretamente antes de poder ser adotada e integrada com sucesso aos processos de segurança da empresa.
Para fazer isso, há dois desafios significativos que precisam ser superados. Primeiro, alguns funcionários podem ser relutantes ao uso de certa tecnologia, particularmente em dispositivos móveis, devido a problemas de privacidade.
É importante que as empresas planejem e comuniquem claramente a maneira com que os dados serão coletados e utilizados através de tais tecnologias. O único objetivo do monitoramento é promover a segurança do trabalhador e melhorar a qualidade do trabalho. Os dispositivos que unicamente rastreiam os movimentos de uma pessoa durante a jornada de trabalho não são necessariamente úteis para gerar dados que melhorem a segurança do trabalhador; mas aqueles que rastreiam os movimentos em áreas de alto risco, ou que localizam as pessoas em uma emergência, com certeza são úteis. Da mesma forma, existem dispositivos móveis, do tipo wearables, que coletam dados dos empregados para prognosticar quanto tempo eles podem permanecer em uma situação de trabalho, especialmente naqueles casos que são de grande estresse, antes de fatigar-se e aumentar o risco de um incidente de segurança. Em casos como este, quando os dispositivos podem trazer dados benéficos para reduzir um risco, um terceiro poderia coletar e agregar anonimamente os dados em nome da empresa, extrair um aprendizado e possibilitar ações preditivas. A nova tecnologia também pode aumentar o nível de envolvimento com os colaboradores e levar a uma maior conscientização sobre os riscos no nível do trabalhador.
Além disso, os aspectos culturais relacionados à idade dos trabalhadores podem impactar a rapidez com que a tecnologia será aceita e utilizada. Os Baby Boomers tendem a estar menos familiarizados com as últimas tecnologias, enquanto os Millennials, mais jovens, já estão habituados às tendências digitais mais recentes e sentem-se mais à vontade utilizando as novas aplicações2. As empresas deverão levar isto em conta ao selecionar e empregar a tecnologia, elaborando um plano de adoção que seja personalizado para as habilidades digitais de sua força de trabalho em particular.
2) Não utilizar um novo sistema tecnológico em um processo que já tenha falhas – não vai funcionar
Não dependa de uma nova tecnologia para melhorar um processo condenado. Na verdade, tudo o que você pode esperar é um volume maior de dados que pouco ou nada servem para reduzir os riscos. Antes de selecionar e implementar uma nova tecnologia, as empresas devem fazer uma revisão detalhada de seus processos, para garantir que o sistema de gestão de risco operacional seja robusto, de tal forma que qualquer nova tecnologia possa alavancar os dados para obter melhorias notáveis.
A capacidade para compreender quais grupos de dados são realmente relevantes, e para selecionar a informação com base em seu potencial de respaldo à tomada de decisão é outra exigência chave. Por isso, uma auditoria focada nos dados disponíveis e sua qualidade pode ajudar a melhorar o processo.
Por exemplo, as empresas podem ter adicionado aos seus processos diversos sistemas de SSMA, desenhados para satisfazer as obrigações legais que foram surgindo ao longo do tempo. Em um determinado momento, estas adições podem resultar em um conglomerado de sistemas burocráticos e problemáticos, aos quais os trabalhadores dedicam mais tempo preenchendo listas de verificação que o necessário. A meta deveria ser de agilizar o processo através da identificação da tecnologia que possa garantir o cumprimento das normas ao mesmo tempo que melhora a eficiência do trabalhador.
Ademais, as empresas precisam começar com os aspectos básicos antes de empregar uma nova tecnologia: assegurar que os processos de gestão de risco estejam implementados, que haja uma estratégia organizacional para suportar os processos, que o processo esteja alinhado com a estratégia de negócio, e que se tenha estabelecido as métricas para monitorar o desempenho do sistema. Começando com uma base sólida e comprovada, a tecnologia será mais efetiva.
3) Garantir que a nova tecnologia esteja totalmente integrada com as operações
Um volume cada vez maior de tecnologia disponível está criando “silos” separados entre a segurança e as operações. Isto não somente pode enfraquecer a cultura de segurança de uma empresa, como também pode reduzir o valor e a efetividade da própria tecnologia. A solução ideal deveria integrar-se com todos os processos críticos de uma empresa. Assim, é possível entregar uma melhoria mensurável, que contribua no sentido de criar uma cultura comprometida com a segurança, que motive os funcionários, que mude os comportamentos e que fomente a propriedade individual nos resultados, através da participação ativa da liderança comporativa, desde os executivos C-Level.
Um exemplo disto é o uso de unidades de monitoramento na indústria de transportes. Uma importante empresa instalou um equipamento em toda a sua frota, e não estava preparada para a informação que viria a receber sobre o desempenho de seus motoristas. Eles tiveram que desenhar novos processos para modificar os hábitos de condução em vez de focar-se na correção dos desvios.
Uma nova solução tecnológica que esteja focada na produção de análises preditivas e prescritivas, baseadas nos dados vindos das operações em campo, no ambiente de produção ou de relatórios, deve ser desenhada em plataformas que se conectem com os sistemas de T.I. existentes na empresa (e.x. SAP). Por exemplo, o acesso ao banco de dados de recursos humanos permitirá a correlação entre os incidentes e a demografia da empresa, levando a um entendimento dos potenciais padrões em eventos recorrentes; conectividade entre os bancos de dados de um contratante e do contratado não somente ajudam a garantir o cumprimento das normas, mas também ajudará a entender quem são os contratistas com melhores desempenhos em segurança e quais são aqueles que representam um risco em potencial.
Nós precisamos mudar a mentalidade de muitos líderes que enxergam os dispositivos móveis como uma distração no local de trabalho. Eles precisam vê-los como uma ferramenta estratégica que pode fornecer informações significativas e oportunas, aumentando o envolvimento dos funcionários. Para suportar as soluções móveis que utilizem a tecnologia nativa de smartphones e tablets para coletar dados, reportar quase-acidentes e resultados de auditorias, precisamos garantir que eles se comuniquem de forma apropriada com os outros sistemas existentes, para definir o contexto da observação e levá-la ao nível correto da empresa.
Enquanto os três pontos anteriores são essenciais para utilizar adequadamente a tecnologia para melhorar a eficiência e reduzir os riscos, também pode ser proveitoso aplicar outros dados relevantes existentes, coletados por outras empresas. Esta informação complementar pode dar às empresas uma melhor percepção da “realidade do negócio” e ajudá-las a adquirir conhecimentos adicionais, permitindo-as tomar decisões mais informadas, no mundo real, para melhorar o desempenho.